Nietzsche e a arte trágica
Por Bruno Tavares Assunção
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Friederich Nitezsche, filósofo
alemão do século XIX, realiza um longo estudo acerca da arte trágica. A
tragédia teria sua origem nas festas populares dedicadas ao deus Dionísio, o
ditirambo, uma espécie de canto coral uma espécie de encenação composta por uma
parte de narrativas e outra de coro musical. Nietzsche resgata a concepção que
Aristóteles apresenta na em seu livro Poética, nesta obra
Aristóteles faz uma comparação dos gêneros literários e concebe ao fim da obra
a o gênero trágico como o maior de todos os gêneros. Para Aristóteles o gênero
poética seria o maior de todos, pois nele a vida pode ser representada de
maneira mais fiel, sendo representada fielmente, a vida consequentemente atinge
a um maior número de pessoas e consequentemente de uma maneira mais enérgica,
mais forte os expectadores.
A tragédia grega é o meio pelo
qual as pessoas veem as suas vidas retratadas, com problemas reais, assim a
tragédia grega é tida como um meio pelo qual o homem sobrevive, o meio pelo
qual encontra forças para a sua vida, pois ao ver a sua vida retratada com suas
questões na tragédia o homem encontra maneiras de pensar a sua própria vida, o
leva a se questionar e tentar encontrar soluções para a mesma. O público
não é tido apenas como um expectador, mas um sim um público-artista, pois é
aquele que não exerce apenas o papel de expectador, mas sim exerce o poder da
tarde que é obtido pelo seu papel de expectador em um papel transformador, o
poder de transformar a sua vida.
Para Nietzsche a maior arte de
todas e consequentemente a maior força está na música, que é a parte
representada pelo coro na cena trágica. A música seria a única expressão
artística capaz de levar o público-artista ao verdadeiro êxtase. Todo esse
entusiasmo leva Nietzsche a construir uma grande admiração e a uma amizade pelo
compositor alemão Richard Wagner, compositor alemão, conhecido pela
grandiosidade de suas obras, grandiosidade esta até então nunca vista. Para
Nietzsche, Wagner tinha resgatado o verdadeiro espírito grego, pois suas obras
tratavam de temas mitológicos com verdadeira propriedade, necessitavam de
grandes teatros, com uma engenharia acústica específica e ainda era necessária
uma certa disposição e entrega tanto dos artistas como do público, pois
geralmente as obras de Wagner duravam horas.
O Apolíneo e o Dionisíaco
Há impulsos artísticos naturais,
ou seja, que fazem parte do homem, segundo Nietzsche, que estão presentes na
arte trágica, o saber apolíneo, do deus Apolo, que representa a beleza, a
harmonia, a proporção e o do deus Dionísio a força brutal, o êxtase, a bestialidade
natural. Essas duas forças se opõem e se complementam, uma não existe sem a
outra.
O povo grego cria a beleza como
uma maneira de escapar da dor e do sofrimento, é aí que está o saber apolíneo,
já em Dionísio o homem encontra o seu estado natural, esse êxtase dionisíaco
permite ao homem esquecer o Estado Ateniense, é um estado de embriaguez, dessa
forma o homem percebe o mundo triste m que vive, quando criou a beleza, para
mascarar a triste verdade. No dionisíaco ocorre uma aproximação com o que Nietzsche
chama de Uno-primordial, ou seja, o mundo das emoções, da
intensidade. É a experiência realizada através da obra de arte que compõe
o Ideal Dionisíaco, é aí que se caracteriza ao mesmo tempo o embate
e a complementação do Dionisíaco e do Apolíneo, os elementos artísticos do
dionisíaco são ao mesmo tempo reprimidos pelo Apolíneo e acrescentados por suas
medidas. É o ideal de acrescentar ao saber Dionisíaco o saber
Apolíneo. Outro conceito importante a se saber é o de Embriaguez,
não uma embriaguez alcançada pelo uso de substâncias, mas embriaguez
dionisíaca, um estado que alcançamos através da arte.
A Morte da Arte Trágica
A Arte Trágica se opõe à
racionalidade filosófica, ambas, são criações do homem, mas enquanto a Arte
Trágica se exerce de maneira positiva sobre o homem, a racionalidade é
decadente, segundo Nietzsche. Eurípedes seria o primeiro responsável pela morte
da arte trágica, em suas obras, exceto As Bacantes, Eurípedes
teria inserido o homem comum na tragédia, ou seja, o povo grego iria ao espetáculo
para assistir o seu cotidiano ser representado, o homem comum passara a ser o
herói. A tragédia com Eurípedes torna-se apenas uma narrativa e é feita para o
público, como uma maneira de entretenimento. Nietzsche faz duras críticas à
Sócrates, ele ao mesmo tempo como o fundador da racionalidade ocidental, como
também aquele que dá início a decadência do homem.
Segundo alguns relatos, Sócrates
em seus últimos dias de vida na prisão teria musicado algumas fábulas de Esopo,
levado pela catarse da alma, ou seja, a volta da alma em uma nova encarnação
sob a forma de um outro organismo. Platão em sua obra A República faz
duras críticas aos poetas e aos dramaturgos, alegando que neles não se deve
confiar, pois falam de maneira a seduzir os que ouvem suas palavras. É a partir
de Platão surge uma sociedade que tem a necessidade da escrita.
Para Nietzsche há uma relação
entre a arte e o sofrimento na tragédia, a arte é uma imitação não da natureza,
mas do processo da natureza. O público, que ele chama de público-artista,
percebe através da individuação do herói trágico, o eterno, ou seja, ele
percebe o âmago da existência, é o que ele chama de consolação metafísica. Por
isso o trágico está ligado à alegria. É no âmago da existência que o homem
percebe que há vida ainda, que nem tudo está perdido. É o que ele chama de
Consolação Metafísica. A morte da Tragédia é representada principalmente pela
tentativa de correção da existência, e isso é feito através da racionalidade.
Glossário:
* Apolíneo – impulso
artístico, relativo ao deus grego Apolo, deus da forma, da clareza, a bela
aparência;
* Arte trágica – gênero
literário originário da Grécia Antiga nas festas dedicadas ao deus Dionísio. A
tragédia é caraterizada por conflitos entre deuses e o homem e surge juntamente
com o gênero da comédia.
* Dionisíaco – outro impulso
artístico, que se complementa com o impulso apolíneo, diz respeito ao deus
Dionísio, deus do vinho, da desmensura, do exagero, contudo é necessário o
impulso apolíneo para que esse seja controlado.
Questões:
1 – Qual a importância da
tragédia na sociedade grega antiga?
2 – A partir da leitura do
texto descreva os conceitos de apolíneo e dionisíaco, relatando as suas
diferenças e de que maneira se complementam.
3 – Como, segundo Friedrich Nietzsche,
a morte da arte trágica?
4 – Em sua opinião, a tragédia,
ou o enredo de uma peça teatral é apenas uma representação, uma história ou um
retrato da sociedade em que vivemos? Justifique a sua resposta.
3 – Pesquise uma peça teatral de
algum autor brasileiro, descrevendo alguma questão da sociedade que é abordada
na peça.
Referências Bibliográficas:
ARISTÓTELES. Poética. In: Coleção
os Pensadores. Tradução: Eudoro de Souza. 1 Ed. São Paulo: Abril,
1973.
NIETZSCHE, Friedrich W. O Nascimento da Tragédia ou
Helenismo e Pessimismo. Tradução: J. Guinsburg. São Paulo: Companhia
das Letras, 1992.
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