Adaptação de A República de Platão, livro 7, Platão
Por Gabriel Chalita
Vamos
imaginar um grupo de pessoas morando numa caverna. Os moradores estão aí desde
sua infância, presos por correntes nas penas e no pescoço. Assim, eles não
conseguem mover-se nem virar a cabeça para trás; só podem ver o que se passa a
sua frente. A luz que chega ao fundo da caverna vem de uma fogueira que fica
sobre um monte atrás dos prisioneiros, lá fora. Entre esse fogo e os moradores
da caverna, existe um caminho, com um pequeno muro, semelhante ao tabique atrás
do qual os apresentadores de fantoches se colocam para exibir seus bonecos ao
público.
Agora
imagine que por esse caminho as pessoas transportam sobre a cabeça objetos de
todos os tipos: por exemplo, estatuetas de figuras humanas e de animais. Numa
situação como essa, a única coisa que os prisioneiros poderiam ver e conhecer
seriam as sombras projetadas na parede a sua frente.
Se
eles pudessem conversar entre si, diriam que eram objetos reais as sombras que
estavam vendo. Além disso, quando alguém falasse lá em cima, os prisioneiros
pensariam que os sons eram emitidos pelas sombras.
Pense
agora no que aconteceria se libertassem um dos presos e o forçassem a ir para
fora da caverna. Ofuscado, ele sofreria, não conseguindo perceber os objetos
dos quais só conhecera as sombras. Ele precisaria habituar-se à luz para olhar
as coisas no exterior da caverna. A princípio, veria melhor as sombras. Depois,
refletida nas águas, perceberia a imagem dos homens e dos outros seres. Só mais
tarde é que conseguiria os próprios seres. Depois de passar por essa
experiência, durante a noite ele poderia contemplar o céu, as estrela e a Lua,
com muito mais facilidade do que o Sol e a luz do dia.
Imagine
então que esse homem voltasse à caverna e se sentasse em seu antigo lugar. Ao
retornar para o fundo, ele ficaria temporariamente cego em meios às trevas. Enquanto
ainda estivesse com a vista confusa, seus companheiros ririam dele se tentasse
convencê-los sobre a verdadeira realidade das coisas que ali são vistas como
sombras. Os prisioneiros diriam que a subida para o mundo exterior lhe prejudicara
a vista e que, portanto, não valia a pena chegar até lá.
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