(2012)
O que é o conhecimento?
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Escrito
por Fábio Luiz Daemon da Silva
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Quando
falamos sobre o conhecimento é impossível não nos lembrarmos do significado
da palavra “filosofia”. A filosofia sempre foi colocada como a união de duas
palavras de origem grega: “philia” e “sophia”. A palavra “philia” tem como
significado em português as palavras “amor” ou “amizade”. Já a palavra
“sophia” tem como significado a palavra “sabedoria”. Logo, presumimos que
filosofia significa um “amor ao saber”. Assim, vemos claramente que a
filosofia nasceu como uma busca pela sabedoria, mais precisamente: pelo
conhecimento.
O
Conhecimento sempre foi o que o homem quis buscar, e a filosofia se
interessou desde sempre em tentar estabelecer quais são as condições
necessárias para que um conhecimento seja considerado verdadeiro ou não.
O homem
sempre almejou o conhecimento. Quando o homem precisava se adaptar a um meio
sempre buscou o conhecimento. O homem atuava pelo conhecimento para poder
dominar e interagir na natureza, além disso, pelo conhecimento poderia se
relacionar com os outros homens.
Na
atualidade nos preocupamos mais com a “realidade” do que com conhecimento.
Hoje em dia é comum tentarmos definir o que pode ser considerado real ou não.
Entretanto, poucas vezes sabemos definir o que é um conhecimento. O que posso
conhecer? Como posso conhecer? Essas perguntas geralmente causam um grande
conflito em nossas mentes. Logo, entramos em um mundo repleto de
conhecimentos já construídos, onde já temos intrinsicamente uma definição do
que consideramos como realidade, porém nunca colocamos em pauta o que, afinal,
significaria a palavra “conhecimento”.
Quando
nos deparamos com a pergunta “o que é o conhecimento?”, evidentemente
cairemos em questionamentos como: “como se conhece algo?”, “quem conhece?”,
“por que conhecer?”, “o conhecimento verdadeiro é o subjetivo (relacionado ao
sujeito que conhece o objeto) ou o objetivo (relacionado ao objeto que se
deseja conhecer)?”.
Existem
cinco formas de conhecimento humano: o senso comum, o mito, a teologia, a
filosofia e a ciência.
O
processo de conhecimento humano é histórico. Ele é construído pelos homens ao
longo de todas as épocas. O homem sempre foi construindo o seu conhecimento
através dos livros, documentos, contos e etc. Sempre se preocupando em passar
o conhecimento para os homens das futuras gerações.
Entretanto,
quando falamos em conhecimento sempre se levanta a questão: qual seria a
diferença entre a Sabedoria e o Conhecimento?
Sócrates
considerava a sabedoria como algo inato ao espírito do homem. Ela seria uma
habilidade intrínseca ao homem, algo que já nasceria com o homem. Já o
conhecimento para Sócrates seria o ato de procurar, encontrar os
procedimentos necessários para despertar a sabedoria no homem.
Logo,
vemos que a sabedoria é algo inato ao homem. Uma capacidade de ser sábio já é
encontrada dentro do homem, porém para que ele a exerça é necessário que
procure instrumentos necessários para despertá-la, ou seja, produza
conhecimento.
Para
que possamos entender como a filosofia se preocupou com o conhecimento e
tentou defini-lo, precisamos compreender a teoria do conhecimento. A teoria
do conhecimento consiste numa explicação ou interpretação filosófica do
conhecimento humano. O que se pretende nessa teoria é compreender o que é o
conhecimento humano, como ele é construído e qual modo de conhecimento poderá
ser considerado como verdadeiro.
A
teoria do conhecimento sempre tratou o conhecimento humano como uma
correlação entre a consciência e o objeto, ou seja, entre o sujeito e o
objeto. Essa correlação entre esses dois elementos é a essência do
conhecimento. A função do sujeito consiste em apreender o objeto, e a do
objeto consiste em ser apreendido pelo sujeito.
Para
entendermos a teoria do conhecimento na filosofia, precisamos entender como o
conhecimento foi designado desde a Antiguidade.
No
diálogo “A República”, Platão estabelece a sua teoria do conhecimento como
uma exposição de uma diferença entre o sensível e o inteligível. O
inteligível tem uma extensão maior que o sensível. Logo, o conhecimento
inteligível é muito mais amplo que o sensível.
Para
Platão há quatro modos de conhecimento: a eikasía (imagem),
a pístis ou dóxa (opinião), diánoia (raciocínio)
e a epistéme ou nóesis (intuição
intelectual).
O
primeiro modo (eikasía) é o conhecimento pelas imagens, simulacros.
Indica um modo de conhecimento pelo qual são apreendidas apenas as cópias ou
as imagens de uma coisa sensível.
O
segundo modo (pístis ou dóxa) é a opinião formada a
partir das sensações e do que ouvimos dizer. É a opinião formada após o
primeiro modo (as imagens). Ela é usada quando emitimos opiniões sobre as
imagens, sem conhecer o objeto verdadeiro.
O
terceiro modo (diánoia) é compreender pelo pensamento. É o modo que
utiliza o raciocínio. Separa os argumentos ou razões para operar pela dedução
ou pela demonstração.
O
quarto modo (epistéme) é o saber verdadeiro. É o nível mais alto de
conhecimento. É ele que possibilita que possamos encontrar a verdadeira
essência de um objeto. É através dele que conhecemos verdadeiramente o
objeto. É o conhecimento adquirido da inteligência com o inteligível.
Já para
Aristóteles o conhecimento tem três características principais: procurar
instrumentos que permitam conhecer coisas particulares, pois somente elas que
correspondem à verdadeira realidade, a ideia de que o mundo é uma totalidade
hierarquicamente organizada e racional, na qual só poderá ser conhecida
mediante certos princípios, tal como o principio do terceiro excluído
(princípio que consiste em afirmar que não pode existir algo que seja e não
seja ao mesmo tempo. Ou alguma coisa é ou não é), e por fim, a solidariedade
natural das coisas, onde tudo que está na natureza está interligado, se
relaciona uns com outros.
O
início do processo de conhecimento inicia com nada gravado. Quando se inicia
o processo do conhecimento, nada temos em mente. Nada conhecemos. Nada temos
gravado em nossas mentes antes. O conhecer é apenas uma potencialidade da
nossa alma. É uma capacidade que temos ligada a nossa alma, mas que não se
encontra previamente. É apenas uma capacidade que temos que desenvolver. As
coisas sensíveis atualizam o nosso conhecimento.
O
conhecimento cresce em quantidade, qualidade e complexidade à medida que
avança dos objetos simples aos mais complexos. O crescimento do conhecimento
por complexidade vai quando se conhece cada vez mais os objetos, chegando a
detalhes cada vez mais precisos deles.
O
aprendizado que possibilita o conhecimento. O exemplo da teoria do
conhecimento de Aristóteles é o da leitura: temos a potencialidade de ler.
Adquirimos a capacidade ou habilidade de ler por aprendizado. Quando
compreendermos a forma e o sentido dos signos escritos, exercemos
perfeitamente a nossa habilidade de ler, que fora aprendida anteriormente.
Na
sociedade atual muito se discute sobre a diferença entre a técnica e o
conhecimento. O trabalho da técnica é a atuação do uso do conhecimento. A
importância da técnica está em facilitar a relação do homem com a realidade.
A técnica ajuda o homem a se relacionar melhor com a realidade, por exemplo:
computadores, celulares e etc. Para exercer o trabalho técnico é necessário
gravação de fórmulas, de conceitos e etc. A técnica é a que domina a nossa
sociedade atual. É ela a mais usada pelos homens na atualidade.
Já, o
conhecimento implica se despojar do conhecimento pronto, do conhecimento já
dado. Se usarmos somente a técnica em nossas vidas, estaríamos somente usando
um conhecimento pronto, não produzindo nada, logo, estaríamos sendo apenas
meros repetidores.
Vimos que o problema do conhecimento sempre
esteve presente na sociedade, e a filosofia sempre tratou de tentar
defini-lo. O conhecimento passa de uma geração para outra. É ele que
possibilitará o homem se relacionar melhor com a natureza e com os outros
homens. Para isso o homem criou diversos tipos de conhecimentos, são eles: o
mito, a filosofia, a teologia, o senso comum e a ciência.
A teoria do conhecimento sempre estabeleceu que
para que se tenha conhecimento é necessário que tenha uma correlação entre
aquele que apreende um objeto e o objeto que é apreendido. É a relação entre
a consciência e o objeto.
Filósofos da Antiguidade definiram o conhecimento
de diversas maneiras, entre eles Platão e Aristóteles foram os que mais se
destacaram. Platão acreditava que existiam quatro modos de conhecimento: o
conhecimento pelas imagens, pela opinião, pela dedução ou raciocínio e pela episteme (saber
verdadeiro). Sendo a última o conhecimento mais completo. Já Aristóteles
pensava que o conhecimento só é possível através de uma procura por
instrumentos que possam apreender os particulares, pois somente eles é que
constituem a realidade; através da ideia de um mundo hierarquicamente
construído; e por fim, através da ideia de que tudo na natureza se relaciona.
Entretanto, tanto Aristóteles quanto Platão acreditavam no que Sócrates
dizia: o saber é inato ao homem. A possibilidade de se conhecer é uma
habilidade intrínseca ao homem, e somente o aprendizado é que possibilita o
homem a potencializar essa habilidade já encontrada nele.
Por termos a habilidade de conhecermos algo, como
afirmavam Platão, Aristóteles e Sócrates, devemos abandonar qualquer tipo de
conhecimento pronto. Jamais devemos ser meros repetidores da técnica.
Produzir conhecimento é diferente da técnica, esta só serve para nos
facilitar no nosso cotidiano, ao nos relacionarmos com a nossa sociedade e
com a natureza, já a produção do conhecimento desperta em todos nós uma
habilidade inata ao homem: a sabedoria. Somente poderemos nos considerar
sábios quando pudermos despertar a sabedoria pelo conhecimento, que será
apreendido pelo aprendizado.
Logo, vemos que o conhecimento é importantíssimo
para todos nós, pois é ele que é capaz de conseguir fazer o homem se
relacionar melhor com a natureza, conhecendo-a cada vez mais.
Senso
Comum
É a
primeira suposta compreensão do mundo resultante de práticas sociais de uma
comunidade. Descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem
depender de uma investigação detalhada.
Mito
É uma
narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma dada cultura. O mito
procura explicar a realidade, os fenômenos naturais e as origens do Mundo e
do homem por meio de deuses, semideuses e heróis. Foi primordial para o
nascimento da filosofia na Grécia Antiga.
Teologia
Junção
das palavras gregas theos (divindade) com a palavra grega logos
(palavra, razão). É o estudo relacionado aos deuses. Um estudo pautado na
divindade.
Eikasía
Palavra
grega que designa simulacro, simulação, imagens, cópias. É o primeiro modo de
conhecimento para Platão.
Dóxa
Palavra
grega que designa opinião, crença comum. É o segundo modo de conhecimento
para Platão.
Diánoia
Palavra
grega composta de outras palavras gregas día (divisão,
separação) e nóia (compreender pelo pensamento). Essa
palavra designa o conhecimento pela dedução, pela demonstração. É o terceiro
modo de conhecimento para Platão.
Epistéme
Palavra
grega que ciência, saber verdadeiro. É o quarto modo de conhecimento para
Platão.
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